quarta-feira, abril 29, 2009

Crônica de Copacabana


O sol a pino das Doze horas fizera-o acordar suado em mais uma tarde de Janeiro. A avó, com quem morava, havia saído como de costume para as compras preparativas do almoço. Ventava quente em Copacabana e o apartamentinho estreito, com as cortinas abertas, permitia que a confusão do trânsito entrasse sonoramente. Foram momentos sem o que fazer, variava da cama para a tv.
Após dormir o resto da tarde já chegavam as Oito horas. Se perguntava como que de noite o calor podia permanecer tão intenso no bairro. Ficou minutos parado na cama sem fazer ao menos uma reflexão.
Um "clic" deu na cabeça e sentiu que precisava sair dali. Abriu a porta da salinha, entrou no elevador antigo e chegou a rua. Foi em direção à Avenida Atlântica, correu pra areia. Olhou o mar. Agora, sem as muchachas que faziam a sua noite, nada mais o interessava. O mar, com suas enormes colchas negras, o namorava mais que nunca.

16 de Dezembro de 2006.

domingo, abril 26, 2009

Maria Alice



Se vem de tempos a minha percepção
De tu vens a vanglória

E com total razão, diria.

terça-feira, abril 21, 2009

Adélia Prado

com Licença Poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade da alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Modinha

Quando eu fico aguda de saudade eu viro só ouvido.
Encosto ele no ar, na terra, no canto das paredes,
pra escutar nefando, a palavra nefando.
Um homem que já morreu cantava:
"A flor mimosa desbotar não pode,
nem mesmo o tempo de um poder nefando."
- mais dolorido canta quem não é cantor.
A alma dele zoando de tão grave, tocável
como ar de sua garganta vibrando.
No juízo final, se deus permitisse, eu acordava um morto com este canto,
mais que o anjo com sua trombeta.

sexta-feira, abril 17, 2009

À minha direita, um poste de luz.
Caminhando para o nada,
Percebo que alguém observa.
Apenas observa.
Mas como?!
Faça algo!!!
Isso é desumano, porra!

quinta-feira, abril 02, 2009

nicinha

"Se algum dia eu conseguir cantar bonito
Muito terá sido por causa de você, (...)

A vida tem uma dívida com a música perdida
No silêncio dos seus dedos
E no canto dos meus medos
E no entanto você é a alegria da vida ."

caetanO.